Como relaxar o cérebro após estímulos visuais intensos, que estressam...
Read MoreVocê sabia que a baixa visão não identificada e sem assistência impacta no desenvolvimento infantil sob o aspecto motor, cognitivo e social? Para começar, lembremos que há 3 CONDIÇÕES importantes para o bom desenvolvimento visual: estruturas oculares normais, anatomia cerebral preservada e estímulos visuais adequados. Aprendi isso com a simplicidade da Dra. Cláudia Dettmer ao falar de assuntos tão complexos. Enfim, se a visão não está se desenvolvendo bem, vamos investigar essas três condições!
Na gestação, do embrião ao feto, há processo que vai da diferenciação das células, formação até o amadurecimento de todo o organismo. O fim da gestação completa se dá por volta da 40ª semana. Mas o 1º trim. de gestação é um período de grandes transformações e é quando as principais estruturas oculares estão em formação.
Entretanto, mesmo ao nascer, a região da mácula (que dará nitidez ao que se vê) ainda precisa amadurecer. Assim como há um amadurecimento neurológico das células nervosas do sistema visual. O nervo óptico ainda está se mielinizando e ao longo dos primeiros meses as conexões neurais vão ficando mais “fortes e rápidas”.
Por isso, recém-nascidos têm uma fixação rudimentar e sua visão é ainda borrada, sem distinção de cores e de contornos mais suaves.
Costumamos dizer que o desenvolvimento da visão se inicia quando o bebê abre os olhos e recebe a luz na retina pela primeira vez. Ah… o primeiro olhar!
No nascimento, abre e fecha as pálpebras de forma espontânea, independente de estímulo. Mantém os olhos em posição horizontal e os movimentos oculares acontecem como pequenos saltos do olhar. Já demonstram reação a estímulos luminosos e sonoros.
ATENÇÃO AO DESENVOLVIMENTO VISUAL
Quando falamos do desenvolvimento infantil, é comum a referência aos estágios do desenvolvimento cognitivo segundo Piaget. Dos 0 aos 2 anos é a fase sensório-motora, de exploração dos sentidos e que ao longo do tempo terão significados. Portanto, a cognição está relacionada a dar sentido ao que se percebe, se sente! A criança explora o mundo pelos sentidos e ações que executa testando suas novas sensações e percepções: olha, escuta, pega, morde, joga… Tantas descobertas! Inicia a coordenação dos movimentos, que deixam de ser involuntários, partem da vontade do desejo da criança realizar uma ação. Vamos falar disso tudo com um olhar para a visão!
É raro encontrar na literatura sobre desenvolvimento infantil tantos detalhes sobre a visão. Talvez porque os marcos não sejam tão evidentes… ora, por isso é tão importante saber!
Ao amamentar, dar banho e trocar o bebê, a uma distância de 20-30cm, ele olha para você porque até os três meses bebês mostram preferência pelo rosto humano, que geralmente está em sua esfera visual. Eles percebem o contraste do contorno dos cabelos escuros sobre o rosto, dos olhos, do batom e o movimento de abrir e piscar e da boca mexer-se ao falar. Associam o som da voz à face dos pais próximos a ele, ainda que não os reconheça.
A percepção de movimento é mais aguçada que a de formas, pois a visão periférica é a mais desenvolvida. Por isso também os brinquedos com listras e padrões em contraste preto e branco chamam sua atenção.
Crédito: Dr. Romesh Angunawela, Moorfields Eye.
No vídeo, você tem ideia da acuidade visual se desenvolvendo. Mas há muita coisa acontecendo! No primeiro mês a criança movimenta a cabeça em direção à claridade de janelas e lâmpadas e sua pupila já consegue ajustar a entrada de luz.
Com 2 meses, pisca quando percebe algo vindo em sua direção (reflexo de piscar). Já é possível observá-la fixar o olhar e acompanhar com mais desenvoltura o movimento de objetos em alto contraste que se movem lentamente no plano horizontal.
Aos 3 meses a fixação é mais consciente, existe certa atenção visual aos estímulos! Ele percebe as cores – inicialmente tem preferência a tons de vermelho, laranja e amarelo. Mas, pode introduzir tons de verde, azul e violeta! É tempo de passear mais. Pare o carrinho perto das coisas, deixe-o observar! Chegou a hora dos móbiles, brinquedos e objetos coloridos.
Entre 3 e 5 meses brinca com as mãos diante dos seus olhos e procura por objetos mostrados e tirados da sua frente repentinamente. É o início da coordenação olho-mão!
Varie os estímulos, a percepção se aprimora com a oportunidade de experiência visual.
Ao final dessa fase sua esfera visual é maior que 1m de distância e o bebê começa a ajustar melhor o foco ao olhar objetos próximos e ao mudar o olhar de um estímulo para outro. Ele já acompanhará bem os movimentos verticais e diagonais. Isso tudo graças a um amadurecimento neurológico “geral”, de mecanismos responsáveis pela musculatura intra e extraocular, atenção e ação intencional.
Até aqui, atenção a dois marcos importantes:
Fale com o pediatra e agende com o oftalmopediatra se observar um olhar perdido, sem fixação nem busca visual até os 3 meses.
Entre 4 e 6 meses já existe cooperação binocular, por isso os desvios oculares FREQUENTES ou PERMANENTES são sinais de alerta! Não é normal e a visita ao oftalmo é necessária.
O AMADURECIMENTO DO SISTEMA VISUAL E DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
O desenvolvimento infantil a partir dos 6 meses é marcado pela fase de exploração e aprimoramento das habilidades visuais e da integração dos sentidos. E até de fazer aquela cara de “não gostei” para certas coisas e pessoas que já reconhece.
Os olhos trabalham em conjunto, sem desvios e em sincronia para começar a observar um mundo tridimensional, com melhor controle dos movimentos e da extensão de seus membros para pegar o que o atrai. Com 6 meses é provável que permaneça sentado com as costas apoiadas, tente virar para frente e para trás, e rolar.
IMPORTANTE: é momento de ver o oftalmo e checar se está tudo bem com a visão!
O bebê está adquirindo consciência espacial e de dimensões. Por isso, deixe objetos de diferentes materiais, formatos, tamanhos e cores dentro do seu campo visual. Ele deve querer tentar pegar e examiná-los, já usando as duas mãos.
Isso não quer dizer entregar ou deixar à mão. O desenvolvimento da criança depende DELA explorar. O movimento visual e motor estão interligados, por isso permita que o bebê se estique, tente alcançar. Que ele leve sua mão direita para pegar um objeto do lado esquerdo e vice-versa.
Ainda que desengonçado, já tem a base para seu desenvolvimento visual e o planejamento motor a partir da visão.
Estimule a linguagem, descreva as partes do corpo, o nome do que ele pega e observa! Cada coisa tem sua textura, sabor, temperatura e emite um som próprio ao bater. Deixe-o explorar, afinal já consegue ver objetos menores e mais distantes.
Com 8 meses é provável que esteja engatinhando (é importante perceber a intenção) . O bebê agarra, espreme, bate, joga os objetos, mas o mais legal é que ele agora quer persegui-los, seguindo seus alvos e coordenando o olhar com o movimento de seus bracinhos e perninhas. Ótimo ter por aí garrafas e bolas, que rolam, para estimular a acomodação visual.
Mesmo que todo esse desenvolvimento não seja natural para crianças com baixa visão, muitos desses marcos serão percebidos em algum momento, talvez com certa adaptação. Mas com a intervenção precoce e os estímulos certos ela estará ganhando visão e amadurecendo sua percepção!
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A INTEGRAÇÃO VISOMOTORA E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
No 2º semestre de vida os sistemas da visão e movimento estão começando a “conversar mais”. É momento de integrar!
A integração visomotora depende de importantes sistemas relacionados ao neuropsicodesenvolvimento da criança, como o proprioceptivo, o vestibular, o processamento visual e o sensório-motor. A fase de engatinhar é muito importante para essa integração!
Cada vez mais estudos relacionam dificuldades cognitivas, psicomotoras, visomotoras e oculomotoras à ausência do engatinhar. Não é balela, embora não seja uma premissa. Mas ao estudar a fisiologia dos sistemas visual, oculomotor e visuopostural percebemos essa interrelação!
Enquanto engatinha e move-se com mais independência buscando objetos de interesse visual (rastreamento), fortalece os músculos do pescoço e dos olhos. Com isso, desenvolvem a capacidade de estabilizar a imagem que estão vendo enquanto se movem.
Tablets, smartphones e até TV são grandes vilões nessa fase
As telinhas desestimulam o movimento, prejudicam a atenção, não demandam esforço motor e mantém os olhos tensionados em uma mesma distância e posição. É justamente o oposto do que a criança precisa, que é ter seus olhos trabalhando juntos em direção a um alvo visual; para olhar de uma lado para outro / para cima / para baixo / em movimentos oblíquos; para escanear o ambiente; para seguir um objeto em movimento; para focar em um objeto próximo (convergência) e logo ajustar os dois olhos para olhar para algo mais distante (divergência).
Por volta dos 10 meses conquista a visão em profundidade (3D/estereopsia), resultante da visão binocular, da sensibilidade de contrastes e percepção de forma bem desenvolvidas. Já contorna obstáculos à frente; pesquisa, manipula e explora visualmente pequenos objetos, observando-os de perto; e reconhece as pessoas, aceitando ou rejeitando-as (bem comum estranhar novos rostos).
Ou seja, com 1 ano já percebemos boa fixação e bom seguimento do olhar; boa focalização, enxergando tanto objetos mais próximos como mais longes; mais atenção em um estímulo de interesse; manutenção do contato visual e boa interação social com pessoas, animais e objetos. Entre o primeiro e o segundo anos já irá rastrear e seguir objetos e pessoas em movimentos rápidos.
Esses são marcos essenciais para a visão binocular que se inicia no 2º. trimestre de vida e se consolida entre 4 e 6 anos.
E isso tudo é sinal do processo de amadurecimento do sistema visuomotor e oculomotor, da percepção visual e da integração visomotora a partir de estímulos que propiciam a preensão, a coordenação motora fina e a coordenação do movimento global.
Aos 2 anos é incrível perceber quanta evolução! Na escola e nas brincadeiras em casa a criança aprenderá a observar os detalhes das imagens coloridas, reconhecendo-as como iguais, semelhantes ou diferentes. Terá habilidades visuoperceptivas para locomover-se, localizar, classificar, relacionar e empilhar as coisas. Apresentará capacidade de imitar pessoas e animais e até fazer alguns traços simples.
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Acredito que a informação transforma vidas, e assim nasceu este blog: um projeto pessoal, que tornou-me uma pesquisadora incansável sobre visão e aprendizagem. Hoje sou neurorreabilitadora visual e visuopostural. Tenho ambliopia e isto me motiva ainda mais! Estudando o universo da neurovisão, quero ajudar pais, terapeutas e professores com medidas importantes nos cuidados com a saúde ocular, o desenvolvimento visual e a baixa visão na infância. Saiba mais sobre a autora.