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Read MoreQue desafios enfrentam as crianças com disfunções de percepção visual? [listei vários]
14/06/2020 Off Por Maria Amélia M. FrancoVamos falar de habilidades de percepção visual e sugerir atividades para estimulá-las! Mas antes imagine os desafios para a aprendizagem se você não conseguisse ou tivesse que se esforçar muito para fazer algumas dessas coisinhas corriqueiras:
Traçar uma linha contínua, ligar pontos.
Imagine, sem o traçado firme e consistente como seria para desenhar e desenvolver a escrita?
Perceber diferenças e semelhanças para discriminar formas, letras, números, coisas.
Imagine não reconhecer seu próprio tênis, por que há diversos tipos parecidos? Ou não diferenciar 2 ou 5, como telefonaria para o número certo?
Compreender a posição das coisas, sentido e direção no espaço.
Imagine não encontrar algo ou se localizar porque não compreende orientações como dentro, ao lado, vire à direita e um mapa é um mistério.
Copiar um desenho ou um texto.
Que tarefa escolar ou acadêmica ignora isso?
Encontrar um elemento em uma imagem confusa ou em um fundo complexo.
Imagine como seria difícil localizar o brinquedo jogado entre ou outros. Ou fazer um caça-palavras, achar o produto na prateleira do mercado, ou localizar o nome das cidades no mapa.
Reconhecer uma figura ou objeto independentemente de sua posição.
Imagine, como seria montar quebra-cabeças, encaixar uma peça do bloco de montar ou organizar móveis quando os objetos estão rotacionados, invertidos?
Distinguir um texto em qualquer formato.
Imagine ser capaz de ler um livro com as fontes padrão, que está acostumado, mas não conseguir ler se for um texto artístico ou apenas com uma fonte diferente.
Fazer uma leitura fluente, de forma dinâmica, ou que faltem letras ou partes do texto ocluído por uma mancha.
Imagine como seria difícil a compreensão do quadro negro com uma letra borrada, de uma mensagem no WhatsApp com erros do corretor se nosso cérebro não pudesse “preencher” essas lacunas.
Identificar algo mesmo que esteja incompleto, sobreposto ou quebrado.
Como seria não compreender um sinal de trânsito parcialmente escondido por um galho de árvore, não encontrar um lápis parcialmente encoberto pelo papel, ou identificar figuras sobrepostas em um desenho?
Lembrar onde deixou algo, a disposição de objetos ou reproduzir um desenho de memória
Como seria não lembrar um trajeto, não conseguir ler e copiar rapidamente do quadro, lembrando as palavras recém lidas?
Memorizar a sequência em que algo estava.
Imagine, como seria não conseguir lembrar de uma sequência numérica em uma fórmula ou uma simples lista?
Pegar, transportar, colocar, encaixar objetos com precisão, quando parados ou em movimento.
Imagine ser estabanado com as coisas, não conseguir pegar uma coisa que lhe é jogada, ser impreciso ao manusear objetos, transpassar um fio em uma agulha e outros tantos manuseios
Tudo isso é percepção visual!
As habilidades visuoperceptivas e a aprendizagem
O processamento visual permeia o reconhecimento de objetos, faces e expressões, a discriminação de cor, forma, tamanho, volume, texturas, percepção de movimento, localização, orientação no espaço… que embasam interpretações complexas.
Assim, a percepção visual resulta de um conjunto de informações sensoriais (visuais, auditivas, táteis, gustativas e proprioceptivas) que chegam por seus caminhos neurais e se integram. Carrega toda uma memória de sensações e experiências que ganham sentido com o desenvolvimento da comunicação oral e escrita, do pensamento e do raciocínio, e de seu refinamento.
Será que podemos dizer que a percepção visual é um passo intermediário entre processamento da informação sensorial e da cognição? Eu penso que sim!
Top 5 habilidades de percepção visual
Logo que comecei a estudar visão e aprendizagem fui apresentada aos trabalhos da australiana Marianne Frostig. Ela ainda é muito citada quando o assunto são os transtornos de aprendizagem e sua relação com as habilidades de percepção visual.
Frostig é precursora de um dos testes mais utilizados de avaliação da percepção visual com crianças (de 4 a 12 anos): o DTVP (Developmental Test of Visual Perception), que já está em sua terceira edição. Nele ela avalia cinco habilidades-chave:
♦ coordenação visomotora – integra habilidades que envolvem a coordenação práxica olho-mão, que abrangem a propriocepção, o sistema vestibular e o processamento sensório-motor. Requer que a criança trace um caminho com linhas retas e curvas sem tirar o lápis do papel e sem sair do traçado proposto;
♦ cópia – requer boa discriminação, psicomotricidade e percepção espacial da figura no espaço para a criança reproduzir um desenho conforme o modelo.
♦ figura-fundo – envolve a capacidade de discriminação de algo em um fundo complexo, confuso. A criança é incitada a encontrar o máximo de formas geométricas embaralhadas em um emaranhado de linhas.
♦ fechamento visual – discriminação de uma figura ou objeto incompleto. A criança deve tentar associar o desenho completo ao seu correspondente com suas partes ocluídas.
♦ constância de forma – envolve o reconhecimento das características dominantes de um objeto ou elemento observado. A criança dever identificá-lo mesmo quando apresentado em diferentes tamanhos, posições, com preenchimento ou só contorno.
Um olhar para as áreas cerebrais de associação visual e sensorial
Essas habilidades demandam diferentes áreas cerebrais, iniciando-se pela fixação e segmento do olhar precisos, para levar as informações visuais precisas pela via retino-cortical (do olho para o córtex estriado, onde há a recepção e codificação dos estímulos visuais) até os diversos níveis de processamento visual.
No entanto, em crianças com baixa visão e atípicas, com áreas difusas de comprometimento neurológico, busca-se adaptações e janelas de oportunidade na área de integração sensorial para desenvolver um caminho de aprendizagem visual e visuoperceptiva.
Cada caso é único, apesar de haver forte relação entre a deficiência visual, deficiência visual cortical, transtorno do espectro do autismo e a ocorrência de disfunções da percepção visual.
Por tudo isso, alterações visuoperceptivas podem impactar de forma diferente atividades cotidianas como brincar, vestir-se, deslocar-se, ler e escrever, organizar cada coisa em seu lugar…
Contudo, ainda que uma criança seja hábil em uma ou outra habilidade de visuopercepção, nem sempre em todas, haverá certa interdependência entre elas. Assim como com outras áreas que permeiam o aprendizado, o social, o emocional, a autorregulação, o comportamento, a atenção, a organização, a concentração, a autoestima etc.
Nem sempre diagnosticada, muitas vezes a criança acaba encontrando estratégias para lidar com suas dificuldades no dia a dia. Mas agora você já sabe!
Como estimular a percepção visual?
Brincando e realizando atividades diversas! Jogos e livros educativos, até revistas de passatempos, são ricos em recursos para trabalhar a visuopercepção. [Aqui já falamos sobre os pareamentos e atividades de rastreamento visual]
Ainda assim, desenvolvi um eBook incrível com um conjunto de atividades que contemplam 10 habilidades de percepção visual, inspiradas no secular jogo TANGRAM.
É criativo, completinho! Tem molde para as peças e 100 ideias que usam o TANGRAM ou se inspiram nele, com diferentes níveis de dificuldade. Você pode imprimir cada folha e usar diversas vezes, com mais de uma criança. Engloba:
♦ Discriminação de forma
♦ Coordenação práxica olho-mão
♦ Relações visuoespaciais
♦ Constância de forma e tamanho
♦ Figura-fundo
♦ Espelhamento
♦ Simetria e assimetria
♦ Fechamento visual
♦ Memória visual
♦ Memória sequencial
eBook de atividades
100 ideias de atividades que englobam 10 habilidades visuoperceptivas para pré-escolares em diante, com diferentes níveis de dificuldade. Gratuito por tempo limitado.
E agora, seu filho precisa de uma avaliação?
Uau! Quanta coisa você pode observar por aí! Até a própria escola poderá sinalizar as dificuldades que a criança apresenta. Converse com a equipe pedagógica se tiver dúvidas.
Ela poderá orientar caminhos para estimular e observar se há apenas um descompasso na aprendizagem das habilidades de percepção visual, ou se há necessidade de encaminhamento para avaliação profissional.
Um psicólogo, psicopedagogo, oftalmopediatra, terapeuta ocupacional, optometrista comportamental geralmente dispõe de testes para avaliação. Ele mesmo deverá encaminhar ou realizar terapias que estimulem o desenvolvimento das habilidades perceptivas e de sua integração com os demais sistemas sensoriais, motores e associados às funções executivas.
Se você é terapeuta, procure compreender que áreas de associação cerebral podem estar afetadas para focar nos estímulos certos. Evite sobrecarregar a criança com estímulos que talvez não sejam necessários, prolongam o tempo de tratamento e a colaboração para alcançar os resultados.
Una-se a nós, por um novo olhar sobre o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
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Read MoreSobre o Autor
Acredito que a informação transforma vidas, e assim nasceu este blog: um projeto pessoal, que tornou-me uma pesquisadora incansável sobre visão e aprendizagem. Hoje sou neurorreabilitadora visual e visuopostural. Tenho ambliopia e isto me motiva ainda mais! Estudando o universo da neurovisão, quero ajudar pais, terapeutas e professores com medidas importantes nos cuidados com a saúde ocular, o desenvolvimento visual e a baixa visão na infância. Saiba mais sobre a autora.