Ambliopia acima de 8 anos? Duvide dos pessimistas.

17/10/2017 Off Por Maria Amélia M. Franco
Ambliopia acima de 8 anos? Duvide dos pessimistas.

Vamos direto ao assunto! Sim, é possível reabilitar a visão da criança com ambliopia, mesmo acima dos 8 anos de idade, quando se atinge a maturidade do desenvolvimento visual. Até mesmo quando adulto.

Infelizmente ainda há médicos dizendo que não há muito o que fazer no tratamento tardio da ambliopia. Crescem os receios, morrem as esperanças… Mas não é bem assim e não entendo porque dizem isso, enquanto existem diversos estudos mostrando exatamente o contrário.

Talvez assuste o fato de que há mais do que a acuidade visual para recuperar na pessoa amblíope. A efetiva neurorreabilitação compreende também a recuperação ou aquisição da acuidade estereoscópica (visão 3D), cromática e de sensibilidade ao contraste, entre outros aspectos.

A boa notícia é que já existe uma corrente de oftalmologistas que recomendam associar a terapia visual ao uso do tampão para ajudar a reverter isso.

Embora neste universo da saúde ocular não seja tão frequente ouvir profissionais falarem de neurovisão e de um tratamento multidisciplinar, eu não vejo outra perspectiva para abordar aqui com você. Afinal, vemos com o cérebro, através dos olhos. Por isso, entrevistei o professor Leandro Rhein, neurocientista, terapeuta visual, escritor e proprietário do Rhein Institute. Acompanhe tudo aqui!

A estimulação visual é indispensável ao tratamento da ambliopia?

Nestes quase 15 anos de prática clínica observei que o tratamento exclusivo com tampão ocular nem sempre tem resposta satisfatória e nesses casos iniciamos a terapia visual.

Existem quatro componentes neurovisuais: a acuidade estereoscópica, a acuidade cromática, a acuidade de sensibilidade ao contraste e a acuidade visual. E quando a gente fala em oclusão, só pensa na acuidade visual, talvez na sensibilidade ao contraste.

Ao conquistar uma visão 20/20 em ambos os olhos, não quer dizer que o paciente já esteja reabilitado. Assim como você reabilita um braço que perdeu o movimento, você primeiro faz fisioterapia e depois que ele está reabilitado você ensina aquele braço a ser reinserido naquele corpo. Ou seja, o corpo precisa entender que o braço vai voltar a ser usado, uma vez que ele havia criado mecanismos para compensar o desuso. No olho amblíope é a mesma coisa. 

Então, além de reabilitar a visão, eu trabalho para reabilitar o paciente binocularmente, para que ele tenha todos os componentes neurovisuais 100% funcionais ou próximo disso.

Qual o primeiro passo para reabilitar o paciente amblíope?

O êxito da neurorreabilitação visual depende da aderência ao tratamento. Conversar com o paciente e os pais é o primeiro passo.

Eles muitas vezes não reconhecem a importância, especialmente as crianças. Como enxergam bem de um olho e a perda da acuidade e da funcionalidade visual não é uma coisa tão fácil de ser percebida, é importante mostrar essa necessidade. 

Eu até relato em um de meus livros um trabalho filantrópico para tratamento da ambliopia que o Instituto fez em uma favela. Tivemos dificuldade de aderência e contamos com o apoio de uma psicóloga. Ela atuou em grupos usando a abordagem fenomenológica existencial e com isso houve uma melhor adesão à terapia.

É importante que o paciente tenha consciência das consequências de se viver com ambliopia. Eu faço um treinamento com os pais e eles viram coterapeutas em casa, entendem o que estão trabalhando.

Quais técnicas você utiliza?

Eu uso um mix de técnicas: ortóptica, terapia visual, optometria comportamental e neurovisão. Além de outras quatro que desenvolvi – reeducação visuopostural, visuopostural oclusal, visual biofeedback e psicotrônica visual.

A nutrição é também uma área de estudo que uso para orientar o tratamento dos meus pacientes. A falta de nutrientes e a ingestão de alguns alimentos atrapalham o processo de reabilitação visual.

Assim como a educação física, que me agregou conhecimentos sobre fisiologia, cinesiologia e a biomecânica do movimento. No caso do amblíope, existe todo um reajuste corporal para o seu corpo usar um só olho. Há impactos na cervical, nos pés, na coluna, no crânio, no equilíbrio e no sistema manducatório (mastigação).

Por isso, eu faço uma análise global e sistêmica dos meus pacientes, incluindo análise postural, da mordida e testes de equilíbrio. É um trabalho multidisciplinar.

Mas o tratamento não é igual para todos. É importante alertar sobre isso. Cada paciente é um mundo a se explorar e para isso ele deve ser avaliado.

Por exemplo, se ele não tem uma alteração postural de cervical, ou uma posição de cabeça, ou um ajuste ergonômico para poder ler e escrever, eu não vou fazer um exercício que demande equilíbrio ou postura. Bem como há pessoas com boa acuidade estereoscópica, enquanto outras não têm.

Além do mais, embora seja natural que o cérebro inicialmente responda bem a um estímulo, após 6 a 9 meses aquele estímulo pode não ser mais adequado.

Como você avalia a ambliopia em crianças acima de 8 anos?

Desde 2006, quando escrevi meu primeiro livro, eu já mostro que existe a possibilidade de reversibilidade da ambliopia após 8-10 anos.

Eu explico aos pacientes que quanto mais cedo a abordagem, melhor o resultado e mais rápido. Porém, eu atendo pacientes de diversas idades. Já atendi muitos casos de 16 anos que concluíram a terapia com a visão 100% reabilitada. 

Existem diversos estudos sobre ambliopia tardia, ambliopia adulta que demonstram a possibilidade de reversibilidade até os 24 anos. A partir daí é tentativa, mas temos resultados bem legais aqui no Instituto. 

Eu tenho mais ou menos uns 600 casos ou mais de reabilitação de pacientes. Um caso emblemático é de um rapaz albino, com 24 anos na época. Ele tinha baixa visão (20/400), ambliopia e nistagmo. Em dois anos, ele passou de visão de 20/400 para 20/40. Mesmo que não tenha havido total reabilitação, é um resultado ótimo considerando a idade e as alterações visuais decorrentes do albinismo. 

Impressionado com sua própria reabilitação, ele buscou formação na área e tornou-se técnico em optometria.

Ambliopia, o que é? O que causa?

Ambliopia é o termo médico para o chamado “olho preguiçoso”. Acontece quando a visão não se desenvolve plenamente em um ou ambos os olhos. Não é possível enxergar bem, mesmo com o uso de lentes/óculos.

Um olho tem boa visão e outro não. Ou um tem uma visão melhor que a do outro. Assim, o cérebro recebe imagens distintas de cada olho, o que gera um tipo de concorrência entre eles. O cérebro acaba por escolher a melhor imagem e descartar a outra, enfraquecendo a visão do “olho ruim”, ou do “pior olho”.

As causas para a baixa visual podem ser:

  • o estrabismo, quando há o predomínio de fixação de um dos olhos;
  • os erros refrativos como a miopia, astigmatismo e hipermetropia em elevados graus (dioptrias) e não corrigidos; ou diferenças acima de 2,0 dioptrias entre os dois olhos, o que prejudica a interação binocular;
  • a privação de luz na retina decorrente de problemas físicos como a catarata congênita, a ptose palpebral, as opacidades vítreas, o leucoma corneano etc.

A ambliopia nem sempre é perceptível sem um exame oftalmológico, pois a pessoa consegue ver somente com o olho bom (ou que vê melhor).

ambliopia e neurorreabilitação visual

Impactos da ambliopia

Para que a criança enxergue bem, seu córtex cerebral precisa receber de cada olho imagens simétricas e nítidas, e ser capaz de realizar a fusão delas. Isso não acontece se houver ambliopia.

Com ambliopia, perde-se a visão binocular – a capacidade de ver em três dimensões (3D). A criança não adquire ou perde a noção de profundidade e de distância. E ela também tem o seu campo de visão reduzido e a percepção espacial comprometida.

Pessoas com ambliopia podem ainda apresentar menor sensibilidade ao contraste.

Além disso, um estudo americano coordenado pela Retina Foundation revelou que crianças com ambliopia leem mais devagar que as outras.

Carreira – dependendo do comprometimento da visão, a pessoa amblíope pode ser impedida ou ter dificuldades em atuar em muitos segmentos profissionais: como atletas, cirurgiões, arquitetos, motoristas profissionais, pilotos, aspirantes às forças armadas etc.  

Que impactos tem a ambliopia na vida da criança e em seu futuro? Explico em outro post as principais repercussões no processamento visual já evidenciadas. [ link na seta ]

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