Avaliação da função visual ou avaliação da visão funcional? [quadro comparativo]
21/03/2019 Off Por Maria Amélia M. FrancoQuando o oftalmologista avalia QUANTO uma criança enxerga ele está avaliando COMO ela vê também?
O que você acha?
Quem se envereda pelos estudos sobre baixa visão uma hora ou outra fica confuso sobre dois conceitos que por vezes se misturaram na literatura: a avaliação da FUNÇÃO VISUAL X a avaliação da VISÃO FUNCIONAL.
Estava relendo esses dias a apostila de um curso que fiz com a terapeuta ocupacional Gabriela Cordeiro Corrêa do Nascimento. Mestra em saúde, interdisciplinaridade e reabilitação ela falava sobre deficiência visual e múltiplas deficiências.
Ela resume essa questão de forma bem didática:
“De maneira geral a avaliação oftalmológica, considerada mais formal, mensura as funções visuais e define como estas agem em um ambiente simplificado e artificial, isolando e variando uma função por vez. Estes dados determinam o potencial visual da pessoa. No entanto, saber como as funções visuais se comportam no ambiente descrito não determina a funcionalidade da pessoa com esta visão no contexto social. Para tanto, é necessária a avaliação da visão funcional, considerada mais informal, que pode identificar a presença de resíduo visual e como a pessoa utiliza esse resíduo nas tarefas cotidianas, no ambiente em que são realizadas. É, portanto, uma avaliação qualitativa com objetivo basal de identificar como a pessoa usa seu resíduo visual nas atividades relacionadas aos seus papeis sociais e que tem como principal fonte de informações a observação do comportamento. Com frequência esse tipo de avaliação é realizado por profissionais da saúde e da educação que trabalham na área da habilitação e reabilitação”.
Trocando em miúdos: o que diferencia a avaliação das funções visuais da avaliação da visão funcional?
Como o olho ou como a pessoa funciona?
Digamos que a avaliação das funções visuais descreve como o olho funciona e como o cérebro processa as informações visuais. Porém, só a avaliação da visão funcional revela como a pessoa funciona em atividades relacionadas à visão. Além disso, como ela funciona em atividades relacionadas à integração da visão aos demais sentidos e habilidades (planejamento motor, funções executivas, relações socio-afetivas, comunicação e linguagem…).
E você já sabe: cada um funciona de um jeito! Mais que isso, cada um reage de forma diferente aos estímulos visuais. Seja na sua casa, na sua escola e em outros ambientes que frequenta enquanto exerce as atividades educacionais e de vida diária.
Portanto, cada um tem necessidades específicas relacionadas à aprendizagem, à autonomia e à independência. São essas necessidades que nortearão
- as intervenções e estímulos para melhorar o uso do resíduo visual e a integração sensorial,
- as adaptações e tecnologia assistiva adequadas, e
- os serviços de orientação e mobilidade.
A arte de observar
A avaliação da visão funcional não é simples, é um processo. Requer empatia e atenção aos detalhes. Porque nem sempre se obtém uma reposta direta do paciente. Observam-se e interpretam-se as suas reações (feições, movimento dos olhos, fixação do olhar, agitação psicomotora, tentativa de alcance, esquiva).
Há ainda poucos estudos e métodos que poderiam servir de base a um protocolo de avaliação. São muitas as variáveis… Lembrando do que a professora Gabriela sempre destaca: a intervenção de crianças com deficiência visual, com outras alterações no desenvolvimento ou com múltiplas deficiências é interdisciplinar.
Bem, deveria ser… Já pensou que incrível seria envolver e buscar a cooperação conjunta da família, da equipe médica, dos terapeutas, dos educadores e das entidades governamentais?
Ps.: Conte a sua experiência para a gente nos comentários e compartilhe seus conhecimentos! Fale como você atua, qual literatura inspira seu trabalho, que cursos indica e que procedimentos utiliza para a avalição da visão funcional.
Una-se a nós, por um novo olhar sobre o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.
Faça como milhares de pais e profissionais que já recebem grátis
nossas publicações. cuidE da visão na infância e compartilhE O que aprende !
| Nossos emails são esporádicos e não lotam sua caixa de mensagens. |
Sobre o Autor
Acredito que a informação transforma vidas, e assim nasceu este blog: um projeto pessoal, que tornou-me uma pesquisadora incansável sobre visão e aprendizagem. Hoje sou neurorreabilitadora visual e visuopostural. Tenho ambliopia e isto me motiva ainda mais! Estudando o universo da neurovisão, quero ajudar pais, terapeutas e professores com medidas importantes nos cuidados com a saúde ocular, o desenvolvimento visual e a baixa visão na infância. Saiba mais sobre a autora.
3 comentários
Os comentários estão fechados.
Quem faz esse exame? Não acho para agendar.
Oi, Deise, importante registrar isso aqui!
A avaliação da visão funcional é realizada por profissional com cursos em estimulação visual, deficiência visual cortical e outros correlatos. Geralmente é conduzida por terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, ortoptistas e pedagogos – autônomos, em clínicas de reabilitação, instituições como associações de cegos e deficientes visuais, APAEs…
Alguns oftalmopediatras indicam estes profissionais e encaminham para estes serviços.
Para eu entender suas necessidades específicas, pode entrar em contato comigo por email (https://www.visaonainfancia.com/contato/), deixando seus telefone para retorno.
Olá! Gostei muito das informações do site.
Sou psicopedagoga e professora e trabalho na área clínica e escolar, com estimulação precoce e reabilitação visual.
Gosto de confeccionar materiais à partir das necessidades da crianças, associando cores, texturas e sons (da natureza de cada material). Também faço uma ponte com familiares e terapeutas para conseguir associar o interesse da criança com os estímulos necessários ( se gosta de personagens, carros, cozinhar, de livros, etc) e à partir disto traço os objetivos e a metodologia.
Atendo crianças com diversos comprometimentos e penso que é sempre importante variar os estímulos e materiais, mas mantendo uma constante em relação aos objetivos e necessidades de cada criança.
Dessa maneira, sinto que consigo contribuir para o desenvolvimento global e motivação dessas crianças, de uma maneira divertida e satisfatória.