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Read MoreComo avaliar a visão funcional de uma adolescente com glaucoma?
23/06/2020 Off Por Maria Amélia Franco e Suellen PolatiRecebemos uma mensagem pedindo dicas para a avaliação da visão funcional de uma adolescente de 17 anos com baixa visão decorrente de glaucoma.
Imagino que muita gente que chegou até esta página já tem ideia do que é o glaucoma… é fácil encontrar informações sobre patologias na Internet. Mas escrevi especificamente sobre a doença na infância no post “Glaucoma na infância: você conhece todos os sinais?“, com a colaboração da oftalmopediatra Dra. Alline Ramos.
Portando, agora, o foco é como faríamos essa avaliação. Bem… essa questão não se responde em poucas linhas. Assim, a partir de uma conversa deliciosa com a Suellen Polati, que assina o blog comigo, o assunto rendeu e virou um textão!
E do textão, um áudio. Acontece que eu transcrevi grande parte da conversa e fiz novos aportes. Assim, se optar por ler o texto, vai notar que é bem direto, informal…
O que observar?
A avaliação é sempre um processo, com muita observação, testagens e anotações ao longo dos primeiros encontros. E continuamente.
É difícil e nem é recomendado fazer de uma vez só! Lembre que pessoas com glaucoma geralmente apresentam redução da visão periférica e maior dificuldade de reconhecimento e orientação no espaço para se locomover e localizar objetos. Mas isso depende do histórico dela, pois varia muito se a criança foi estimulada e recebeu atendimento especializado desde pequena ou não.
Também depende do comprometimento do campo visual. Quando há um comprometimento maior, observa-se a necessidade de movimentação dos olhos para varredura do ambiente. A baixa sensibilidade ao contraste é outro aspecto. Alguns podem apresentar fotofobia ao mesmo tempo que necessitam melhor condição de iluminação, evitando ofuscamento…
Conversando aqui com a Suellen pensamos em como ajudar destacando algumas práticas importantes durante a avaliação que deve:
- revelar a amplitude do campo visual e em que posição ela enxerga melhor e há mais conforto visual
- verificar a que distância enxerga
- perceber as respostas a diferentes graduações de contrastes
- testar tamanhos de fontes, figuras e objetos – com e sem detalhes
- observar a sensibilidade à claridade e a melhor condição de iluminação para ela
- notar dificuldades com atividades da vida diária e de orientação e mobilidade
Então, antes de tudo, lembre-se que a acuidade visual deve estar corrigida, conforme prescrição do oftalmologista.
Ambos os olhos, daí OD, depois OE. Avalie com objetos, com figuras, com texto.
A partir daí, comece avaliando ambos os olhos, depois OD e OE, tampando um deles. No início você pode mostrar bolas de três tamanhos com diâmetros de 15, 8 e 3 cm cada vez. Tente começar a 5 m e reduzir a distância até perceber o conforto visual e respostas satisfatórias. Depois faça o mesmo com placas de figuras simples de cores e contrastes diferentes.
Note se ela consegue indicar que é uma bola, se tem certeza que é uma bola, de qual cor ela é. Repita com outro objeto simples.
Daí com as figuras é a mesma coisa. No plano bidimensional geralmente a dificuldade é maior. Assim, se ela reconhece a bola e outro objeto de 3 cm a determinada distância, pode ser que só reconheça uma figura maior nessa mesma posição. Logo, primeiro você avalia com uma figura sem detalhes o melhor tamanho e distância. Depois nessa posição, avalia a resposta dela em uma figura com bom contraste e mais detalhes e cores, pedindo para ela descrever tudo o que vê.
Use ainda um livro ilustrado, pedindo para ela indicar onde estão elementos de tamanho e complexidades diferentes.
Já para a avaliação da leitura. Opte pela fonte Arial ou Verdana e teste textos curtos ou frases diferentes, começando com tamanho 12, 14, 16, 18… Quanto ela aproxima? Como é a postura dela para fazer a leitura com cada tamanho de fonte? A que você notar que ela ficar mais confortável é a fonte que deve ser considerada.
Outra questão relacionada à leitura é observar como ela lê e compreende o que ela própria escreveu. Uma técnica é pedir para ela copiar algo que você escreva no quadro e deixar por um tempo de lado para evitar a memorização. Ela deve usar o lápis ou caneta de costume. Depois ao final do atendimento peça para ela ler o que copiou e verifique se enxerga.
Dependendo do resultado, retome a cópia com diferentes tipos de lápis e caneta, uma para cada linha escrita: caneta preta, caneta azul, lápis 6B, 8B, 4B e, então, ao fazer a leitura um tempo depois confirme com ela qual é melhor. Procure usar textos e frases novos, desconhecidos, ainda não memorizados.
A iluminação interna e externa, como influencia?
A observação de como a iluminação e o ofuscamento impactam na condição visual dela vai longe e acompanha todos os outros momentos da avaliação. Deixe a luz acesa e a cortina entreaberta desde a hora em que a menina entre na sala. Deixe-a observar o ambiente. Daí diga que ela pode se sentar e veja se ela localiza e como se senta na cadeira. Vá até a cortina e abra mais, questionando se melhora ou piora, observando se ela franze a testa, semicerra os olhos… Depois apague a luz, mantendo a cortina bem aberta e prossiga com a avaliação.
Marque horários diferentes para a avaliação, de manhã e à tarde, em que as condições de iluminação são distintas. Com sol ou sem sol, como é o ofuscamento no momento da leitura? Conversando com ela pergunte se ela costuma sair na rua de óculos de sol, por exemplo. É uma pista de quanto a luz ajuda ou incomoda. Quanto à questão da leitura, ajuste uma luminária de mesa e verifique o que melhora ou piora.
Tem autonomia e independência?
Em outro momento, é importante abordar a autonomia da adolescente em casa e na escola, e as dificuldades que relata.
Por exemplo, se ela pega ônibus sozinha, vai ao shopping ou ao mercado, faz suas próprias compras e lida com dinheiro ou porque não. Se ela costuma sair comer fora ou se tem dificuldade e sente vergonha. Enfim, se ela depende de alguém para seus deslocamentos e afazeres da vida diária.
Como o caso em questão é o de uma adolescente, leve ela para circular na rua e veja se consegue se locomover bem, se ela desvia os obstáculos, desce escadas com confiança… ou se comenta que se bate muito e já sofreu acidentes, caiu muito em calçadas e hoje em dia nem sai mais.
Dependendo dessas respostas avalie outras necessidades relacionadas à orientação para atividades de vida diária e mobilidade. Ou relacionadas ao uso de alguma lupa ou aplicativo no celular e computador para facilitar a sua leitura de texto.
Quando criança existe todo um programa de estimulação visual que visa trabalhar o desenvolvimento global dela e sua autonomia quando maior. Depende também de como os pais conduzem a deficiência visual em casa. No caso dela que já é adolescente pode não ter havido, digamos, “essa aprendizagem para usar melhor seu resíduo visual e integrar as habilidades sensoriais e motoras”. Ou pode ser que sim! Por isso, avalie, cada caso é único mesmo!
Atenção aos detalhes!
Não é um bicho de sete cabeças, tudo que pontuamos são questões bem práticas, que você avalia nos detalhes. Sim, tem que ter um olhar minucioso aos detalhes. Você precisa estar conectada pra concluir uma boa avaliação, tomando nota de tudo e pensando como cada questão poderá ser trabalhada.
Ah… o segredo da avaliação pode nem estar nas dicas técnicas que passamos, mas sim na delicadeza e no cuidado com a abordagem da adolescente. São questões que podem ser delicadas para ela…
Mais que isso, o glaucoma é uma patologia que realmente pode levar à cegueira. Por isso, além da avaliação de hoje, você ou outro profissional que atenda essa adolescente e a acompanhe, podem precisar conduzi-la passo a passo para um atendimento voltado a uma autonomia com bengala, à leitura Braile e outras ferramentas de acordo com a severidade da perda visual.
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Read MoreSobre o Autor
Maria Amélia é pesquisadora sobre visão e aprendizagem e idealizadora do Blog (um projeto baseado em uma experiência pessoal), o que a motivou cursar Terapia Ocupacional. Suellen é pedagoga, especialista em educação especial, com ampla experiência em estimulação visual infantil. Reuniram seus conhecimentos aqui para orientar sobre o desenvolvimento visual, mostrar como a estimulação precoce e contínua não é um bicho de sete cabeças e inspirar pais e profissionais a cuidar da visão na infância. Saiba mais sobre as autoras.