TV, tablets e smartphones para crianças: por estas razões você diria não? [Infográfico]

28/08/2018 Off Por Maria Amélia M. Franco
TV, tablets e smartphones para crianças: por estas razões você diria não? [Infográfico]

É exagero dizer não ao uso de TV, tablets e smartphones para crianças? E… por que dizer sim?

Estou longe de ser a melhor mãe do mundo (melhor em quê?). Também não sou a mais perdida… Porque tem temas dos dias atuais que me fazem ficar beeeem antenada.

Eu tenho pesquisado e refletido muito sobre a influência das telinhas no desenvolvimento infantil, principalmente nos primeiros anos de vida. Para mim, uma influência mais negativa que positiva diante da forma como as crianças estão expostas: sem presença e interação parental.

Em uma entrevista sobre seu livro Hate Me Now, Thank Me Later, o psiquiatra infantil Dr. Robin Berman disse que “muitos de nós estão assumindo que elas (as mídias eletrônicas) são inofensivas e justificando isso por medo de que nossos filhos fiquem para trás em um mundo eletrônico competitivo. Mas as crianças aprendem a usar essas tecnologias em um nanossegundo. É muito mais difícil desenvolverem as habilidades emocionais e sociais, que dependem da interação com outros seres humanos”.

Por que eu sempre tive cautela ao liberar TV, games e aplicativos de tablets e smartphones para minha filha?

Vamos lá! Falarei do que considero a base para a minha decisão. Depois comentarei brevemente outras questões e como lidei e lido até hoje com a Ceci.

Plano abstrato x plano concreto

Crianças até dois anos de idade precisam explorar, construir suas experiências pela prática. Precisam de interação social, de afeto e sentir-se seguras junto aos seus pais e/ou cuidadores. O desenvolvimento das habilidades cognitivas, de linguagem e da fala, motoras e socioemocionais depende disso.

Nos primeiros anos de vida, as funções cerebrais de atenção, memória e aprendizagem simbólica ainda são imaturas. Por isso, as crianças não conseguem aprender simplesmente a partir do que vêem aleatoriamente nas mídias eletrônicas e digitais, como o fazem a partir das interações com as pessoas. Aliás, elas têm dificuldade de transferir o que está nas telas para uma experiência tridimensional, no plano concreto. É preciso alguém de carne e osso ali com elas, conversando, demonstrando, repetindo e modelando comportamentos.

Ou seja, os programas por mais educativos que pareçam ser, por si só, não consolidam a aprendizagem nessa fase.

Hierarquia de aprendizagem

Inteligência não se mede pelo saber as cores, contar degraus e nomear bichos e objetos. E como nos impressionamos com os pequeninos tão espertos!

É a partir do planejamento dos seus movimentos que a criança constrói uma base sólida para o aprendizado. Para o desenvolvimento cognitivo e a integração sensorial, que estão relacionados à percepção, atenção, memória, linguagem, raciocínio lógico e controle motor (até mesmo o controle oculomotor).

Tudo isso começa com o desenvolvimento dos sistemas de equilíbrio (vestibular), de toque (tátil) e de movimento (proprioceptivo). Que vão receber e organizar as informações visuais e auditivas e transformá-las em respostas motoras e comportamentais apropriadas (como agir em cada situação).

Como? Vendo TV sentado, sem fazer bagunça? Fazendo comandos intuitivos nos eletrônicos portáteis? Nãaaao!

Pensa comigo nessas palavras: “equilíbrio”, “toque”, “movimento”. Agora perceba como os pequenos se comportam diante das telinhas. Se fosse pegando em tudo, correndo e trepando por aí não seria a arma de muitos pais para o sossego (inclusive eu, claro que já deixei minha filha vendo filme sozinha para resolver assuntos meus. Mas eventualmente).

Sobrecarga de estímulos

Mesmo que os sistemas vestibular, proprioceptivo, tátil e de apego sejam de alguma forma estimulados, os programas na TV e aplicativos sobrecarregam os sistemas sensoriais visuais e auditivos gerando um desequilíbrio neurológico.

Além de elevarem a adrenalina, causarem estresse e um estado de alerta prolongado porque a criança não consegue assimilar o que é ou não real. A anatomia do cérebro, a química e os caminhos se tornam permanentemente alterados e prejudicados.

Vamos esperar para ver?

 A terapeuta ocupacional Cris Rowan, atua alertando sobre as mudanças profundas que as mídias eletrônicas podem causar no desenvolvimento, no comportamento e na capacidade de aprender de uma criança. “Atraso no desenvolvimento, doença mental, obesidade / diabetes, privação do sono e dificuldades de aprendizagem atingiram o status epidêmico. Nossos filhos nunca foram mais doentes, indicando que as maneiras pelas quais estamos educando as crianças com a tecnologia não são mais sustentáveis”, adverte.

Há indícios de que diagnósticos de transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro autista, transtorno de coordenação, transtorno de processamento sensorial, ansiedade, depressão e distúrbios do sono podem estar causalmente ligados ao uso excessivo da tecnologia e por isso estão aumentando a um ritmo alarmante.

Além disso, embora não seja o único fator, estudos sugerem que o uso por longo período de tablets e smartphones pode estar relacionado à incidência e progressão da miopia.

Enfim, existe uma lista imensa de pesquisas sobre o impacto da tecnologia no desenvolvimento infantil, comportamento e desempenho escolar. Apesar de ser difícil alocar toda a culpa às tecnologias, vamos esperar para ver?

O que dizem os pediatras sobre TV, tablets e smartphones para crianças?

A principal referência no momento é a Academia Norte-Americana de Pediatria (veja no infográfico suas recomendações). Meu maior conselho é que você busque se informar e promover a informação. Acima dos 5 anos há outros riscos ligados à segurança, consumismo, autoestima, vícios… Portanto, é importante manter uma comunicação contínua sobre cidadania, comportamento e segurança online.

recomendações sobre TV, tablet e smartphones para crianças

O regime de uso das mídias eletrônicas na minha casa e o que sugiro fazer!

Eu não partilho da ideia de eliminar TV, games e aplicativos de tablets e smartphones indiscriminadamente. Seria hipocrisia minha. Mas fiz um propósito muito difícil de reduzir ao máximo os momentos da Ceci com eles.

Até os dois anos, mantenha como pano de fundo, baixinho, e como instrumento para a interação do adulto com a criança, que pode dançar, cantar, repetir, mostrar e reproduzir o que está na tela. Quase sempre foi assim por aqui, mas longe do ideal.

Ah… “mas meu filho brinca enquanto assiste a Galinha Pintadinha…” Se ele para de brincar para olhar, ele está perdendo o foco na brincadeira facilmente. A criança precisa envolver-se em seu universo brincante, desenvolver a atenção e a concentração.

A partir dessa idade, escolha a dedo alguns aplicativos educativos para construir o conhecimento junto – eu escolhi as opções do MyFirstApp, PlayKids e KidsDetectiveGames. No PlayKids eliminei muitos desenhos no controle parental, mantive os musicais e as atividades. Eu selecionava o app ou dava apenas duas opções de escolha. Ficava ali com ela, acompanhando seu raciocínio, orientando quando ela olhava para mim sem entender o que estava errado.

Sobretudo, limite o tempo e pague se for preciso para se livrar das propagandas. Depois, guarde. Procure criar uma rotina de quando usar e a criança saberá que somente naquele momento terá acesso.

Eu curto até hoje assistir filmes juntas. Comentamos o que acontece, depois conversamos sobre a história, os personagens, por que tal coisa é assim… Ela assiste atenta do começo ao fim. Não tenho certeza se é da personalidade da Ceci ou se é pela forma que conduzo as atividades dela, a orientando para iniciar e terminar aquilo que começa.

Lembro que a pedagoga da escola da minha filha, próximo dos seus quatro anos, disse que os alunos precisavam fortalecer o movimento de preensão e desenvolver muuuuuito bem a coordenação motora fina para cumprir os objetivos pedagógicos. Explicou que a resposta rápida ao leve toque do display dos tablets e celulares estavam deixando os alunos mais preguiçosos para segurar um lápis e tentar fazer movimentos mais precisos. Nessa fase praticamente eliminei o tablet!

Confesso! Já usei muitas vezes tablet ou celular para finalizar um jantar com calma em um restaurante. No entanto, logo aprendi a entender as preferências da minha filha e a carregar brinquedos que ela curte em qualquer lugar (muitas vezes mais leves). Afinal, nada melhor do que ver seus pequenos bonecos explorarem novos lugares (embaixo da mesa ou entre os utensílios sobre ela). É uma aventura! Hoje em dia ela mesma escolhe “quem levar” e põe na bolsa. Só isso já a está ajudando a se desenvolver, a fazer escolhas, a cuidar e se responsabilizar pelo que é seu.

Adoraria ter conseguido cortar a TV na hora de comer. Sei que tem relação com a saciedade e o aumento da obesidade. É um hábito do meu marido e já percebo que não é benéfico para nós. Ceci come rápido e muitas vezes nem nota tudo o que comeu. Por isso, faça o que eu digo, não o que eu faço.

Por outro lado, a rotina de dormir é um sucesso aqui em casa! Desconectem-se e reduzam a iluminação entre 1-2h antes de deitar. Ela dorme rápido, bem e tranquila. Basta uma noite não seguindo essa regra, ela demora para dormir, agita-se mais na cama e passa o dia seguinte irritada.

Portanto, ao meu ver, é preciso avaliar COMO essas tecnologias são usadas, QUANDO e por QUANTO tempo. Mais: que alternativas de brincadeira e entretenimento estão sendo ofertadas ao ar livre? Quantas são as oportunidades de abraçar, brincar, acolher e conversar com os filhos sem que eles estejam conectados?

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