Seu bebê não fixa o olhar? Veja o que você pode fazer!

08/11/2017 Off Por Maria Amélia Franco e Suellen Polati
Seu bebê não fixa o olhar? Veja o que você pode fazer!

Ela não fixava o olhar, em nada parecia ter interesse. Foi bem difícil no começo da estimulação visual, foram vários encontros sem perceber resposta visual, meses.
Os pais me questionavam quando a filha sorriria para eles e eu sabia quanto isso era importante.
Também sabia que os recursos que eu estava utilizando eram certos e confiava que era uma questão de tempo, de persistência. Hoje ela já fixa o olhar, segue o movimento e é capaz de reconhecer os objetos… a sua visão está se desenvolvendo!

Confesso que meu trabalho é motivador, pois eu me entusiasmo com cada resposta positiva aos estímulos que ofereço. E sei que estimular faz toda a diferença.

Por isso contarei para você o que eu faço para que bebês que parecem ter um olhar perdido, que não demonstram resposta visual, aprendam a fixar o olhar e a acompanhar o movimento dos objetos. Tudo simples e prático para dar continuidade ao tratamento em casa.

Mas, antes de tudo, é preciso conhecer os motivos da ausência de fixação visual no seu bebê. Há uma infinidade de causas que incialmente podem ser triadas pelo oftalmopediatra e, então, a estimulação precoce será bem-vinda.

Cada bebê responde de uma forma

Ansiosos para estimular a fixação visual em casa os pais logo me perguntam quais materiais eles precisam ter, quando trabalhar no escuro ou em luz ambiente. Porém não existe uma resposta padrão.

Sempre avalio a função visual da criança e sua resposta aos estímulos para depois orientar a família quanto aos materiais que eles podem utilizar, como posicioná-la e como preparar o ambiente para a estimulação.

Quando a mãe entra na minha sala com o bebê eu já começo a avaliar se ele observa o espaço, minha roupa ou algum brinquedo de alto contraste que deixo propositalmente em cima da mesa.

Aproximo meu rosto ao dele enquanto falo e noto se ele me procura e fixa o olhar em mim. A pele clara, o batom e os cabelos escuros criam um contraste no meu rosto que ajudam muito!

Assim, se o bebê demonstrar no ambiente iluminado alguma reação, algum interesse em mim ou em outro estímulo – mesmo que uma pequena reação do olhar, eu realizo toda a avaliação na claridade.

Com base nas respostas visuais recebidas em cada etapa da avaliação funcional, eu crio um planejamento de trabalho que poderá ser apenas no escuro no início ou misto (penumbra e claro).

O importante é entender que cada criança é única e seu processamento visual também, pois depende do quadro clínico. Há crianças que percebem melhor contrastes em preto e branco, já outras em amarelo e preto, ou até mesmo outra paleta de contraste. É preciso testar e ver qual tem uma melhor resposta! E ir variando os estímulos e testando…

3 passos para ajudar o bebê que ainda não tem fixação visual

fixação visual na penumbra

Vamos fechar a venezianas e cortinas! Colocar uma cartolina na janela para bloquear a intensidade da luz também está valendo.

Você pode posicionar o bebê de costas no chão ou de bruços. Ou quando maiores no bebê conforto e na cadeirinha. Mudar a posição de acordo com seu desenvolvimento é interessante! 

Opte pela penumbra, não pela escuridão total. Note o olhar se voltar para o estímulo luminoso. Mas a luz da lanterna não pode ser muito forte e direta. A ideia da lanterna é direcionar o olhar somente para o objeto iluminado.

Apresente os objetos na linha mediana dos olhos, a uma distância de 20-30 cm. Um por vez. E você pode movimentá-los! Apenas cuide com movimentos  verticais e diagonais antes dos 3 meses, quando ainda estão desenvolvendo essa habilidade oculomotora.  

Na penumbra mesmo, comece trabalhando com placas em alto e médio contraste e esferas coloridas. Teste objetos em contraste absoluto preto e branco, depois coloridos;  ou menos saturados em tons de cinza e tons pastel. Você vai se surpreender como também funcionam e podem ser menos “agressivos” para pacientes com deficiência visual de causa neurológica. 

Se a criança não demonstrar interesse no que lhe é apresentado, inclua e alterne estímulos diferentes para ver o que funciona melhor. Cada um tem uma resposta diferente. Por isso eu não recomendo um kit específico. Eu trabalho com placas, bolas, frascos, tampas, pompons, brinquedos…

Às vezes, apague e volte a acender a lanterna direcionada ao objeto. Observe os olhinhos, se ele semicerra os mesmos ou se esboça alguma reação. Também alterne a posição da luz da lanterna para pontos no campo central e periférico, sempre observando se o bebê movimenta a cabeça ou os olhos em direção à luz.

A resposta à luz, quando o bebê vira a cabeça e os olhos para o estímulo, é o primeiro sinal de resposta visual. O próximo passo é conquistar a fixação e manutenção do olhar, demonstrando interesse nos objetos apresentados. 

Eu também gosto de usar duas lanternas. Com uma em cada mão eu as acendo alternadamente e observo se a criança olha para a luz refletida de uma lado para o outro.

Com a melhora da fixação e focalização você pode aumentar gradativamente a distância.

E quando colocar o bebê de bruços, experimente deixar o brinquedo na sua frente. Note se ele observa e tenta pegá-lo. Com o progresso ele fará tudo isso!

 

ATENÇÃO! 

Não existe um tempo certo de estimulação, mas aprendi que estímulos com luz e muitos contrastes que se estender durante 5, 10 minutos ou mais acabam mais por estressar que favorecer o cérebro, especialmente usando estrobo, ou luzes coloridas aleatórias. Para a criança ainda em desenvolvimento é muita informação, por isso não é raro vê-las irritadas e cansadas ao final!

Também há de se considerar que pacientes neurológicos são ainda mais sensíveis a alterações bruscas de movimento, luzes piscantes e concorrência de estímulos. Possuem um tempo de latência para processamento das informações sensoriais e, muitas vezes, apresentam convulsões e crises refratárias (talvez horas depois).    

Conhece a máxima, menos é mais? Pois é, a complexidade de quartos cheios de estímulos em todo o canto pode ser menos eficaz que apresentá-los a cada momento ! 

Ao usar lanterna, direcione a luz para o objeto. No estudo da fototerapia aprendemos que a luz refletida é mais segura. A luz emitida (luz direta da lanterna, da mesa de luz, de um objeto luminoso ou transiluminado) precisa ser conduzida com conhecimento dos efeitos neurológicos da luz no organismo. E nem sempre mais luz, é mais resultado!   

imagem mostra um jogo de encaixe de mamãe animais e seus filhotes; uma garrafa plástica; uma caixinha com bolas coloridas e bichinhos de borracha; palitos com animais de papelão e dedoches dos 3 porquinhos na ponta; um potinho com sagu e tábuas com furos para transpassar cadarço.

O que você vai precisar:

  • Bolas ou brinquedos que se destacam com a luz da lanterna (nem sempre as cores mais vivas são a única e melhor opção, diversifique e observe a reação da criança ao longo do tempo). Entre 4-10 cm já é bom!
  • Placas com distintos contrastes (tem modelos na loja do blog!).
  • Lanterna (se necessário, buscando preferencialmente usar refletida no objeto, guiando o olhar, em ambiente “levemente” iluminado)
  • Sua face sempre será um estímulo, aproximando e afastando, ainda que nos primeiros momentos seu olhar não seja correspondido. Em conjunto com os demais estímulos este momento vai chegar! Capriche nos contornos do olhar, da boca e nas “caras e bocas”.      

Depois você pode diversificar os estímulos! Basta seguir a regra básica: destacar o estímulo com iluminação adequada (direcionada ou ambiente) e reduzir a complexidade do fundo em que o objeto se apresenta. Comece com um estímulo por vez até que a fixação seja mais sustentada.  

fixação visual em luz ambiente
À medida que você perceber melhora na fixação visual, você pode trazer a estimulação para um ambiente com luz natural. A proposta é incitar a criança a tocar/pegar objetos da sua mão, do chão… e a tentar persegui-los com os olhos.
Mesmo no claro, você pode usar a lanterna. Uma dica é colocar 3 bolas de cores diferentes na frente da criança e alternar a luz da lanterna sobre elas. Com isso o estímulo ficará mais vivo e você poderá observar se a resposta é mais rápida e como se comporta o olhar.
Teste aumentar a distância do estímulo e diminuir seus tamanhos. Geralmente objetos entre 5 e 7cm podem ficar a 30-40cm, e entre 7 e 10cm a uma distância de 40cm ou mais.
Só evite brinquedos com som. O objetivo é ver o desempenho visual e o ruído pode interferir.
seguimento do olhar

Uma vez conquistada a fixação e se o bebê já apresentar melhora na focalização, você pode realizar exercícios para que ele siga e explore os objetos.

Então, adicione movimentos lentos no plano horizontal. E quando já dominar esse exercício, acrescente movimentos verticais e diagonais.

Eu adoro usar fantoches nessa fase! Veja como nesta publicação sobre como usar fantoches e dedoches na estimulação visual.

Porém não se restrinja a isso. Realize atividades com brinquedos bem variados, de diferentes cores e tons, observando como a criança responde e suas preferências.

Logo a criança demonstrará ser capaz de coordenar mão-olho-objeto. Ela mostrará interesse, já conseguirá fixar o olhar no estímulo e tentará persegui-lo e alcançá-lo com suas mãos.

Daí é hora de introduzir atividades de encaixes simples como empilhar, enfileirar, colocar e tirar…brincar assim favorece o desenvolvimento visual!

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