6 sinais de que as telas de celulares, tablets e computadores estão prejudicando a saúde visual do seu filho

12/04/2021 Off Por Maria Amélia M. Franco
6 sinais de que as telas de celulares, tablets e computadores estão prejudicando a saúde visual do seu filho

Que cansaço é esse que as crianças e adolescentes têm mesmo quando não se exercitam? Por que será que um dia entre TV, games, aulas online e aplicativos em dispositivos eletrônicos – que supomos serem prazerosos – os levam a um esgotamento irracional? 

Vamos falar da síndrome visual do computador e de ergonomia visual. O assunto não é novo, mas tem sido bastante IGNORADO e agora acomete crianças. Então convidei minha amiga fisioterapeuta ocular, Alana Landal, para trocar uma ideia. Acredito que possamos lhe oferecer “um novo olhar” a respeito disso! 

A amizade com a Alana começou na formação de Neurovisão e Reeducação Visuopostural e se estende às prosas e estudos do universo da visão, na discussão de casos e no amor em comum pela reabilitação neurológica. Você vai se chocar com tudo que falaremos a seguir!

 

Síndrome visual do computador, que nome é esse?

SÍN-DRO-ME. Isso mesmo, não é um transtorno, uma patologia, uma só coisinha para tratar. É um conjunto de sinais e sintomas em vários processos patológicos diferentes. A síndrome da vista cansada é resultado de uma descompensação em cadeia do sistema visual, que repercute em diversas funções visuais, visuomotoras, oculomotoras, visuoposturais, atencionais, só para dizer o básico.   

“A base de tudo está na compreensão do que é ESTRESSE. O estresse é uma resposta a uma condição anormal para o organismo, caracterizada pelo esforço excessivo, que gera uma mudança nos estados emocionais, fisiológicos e físicos. Hormônios e neurotransmissores liberados em situação de estresse geram desequilíbrio nas funções neurais que se manifestam em sinais e sintomas”, explica Alana. 

A causa desse estresse visual não se atribui somente aos tipos de telas e luzes que emitem. Por vezes é resultado de uma sobrecarga postural, porque deixamos de ter crianças com o corpo em constante movimento, em contínuo ajuste e busca do equilíbrio natural. 

“Ao ficar longos tempos parados, sentados desajeitados, quase sem piscar e sem respeitar a biodinâmica do corpo, exigimos uma força sobrenatural de contração e de sustentação das musculaturas, que pouco relaxam. Isso acontece tanto para grandes grupos musculares, como os que sustentam nossa coluna, quanto para a pequena musculatura dos olhos, que permanecem em tensão prolongada olhando para as telas”, alerta sobre alguns dos principais aspectos.  E completa: “além do ciclo vicioso ‘má visão que altera a postura – má postura que altera a visão’, cuja relação é inseparável na síndrome visual do computador. Atualmente são mais comuns estrabismos intermitentes, pontos de tensão e queixas de dores na cabeça, pescoço e parte superior das costas”. 

infográfico mostra sobrecarga na cervical devido à má postura ao celular
Freepik

6 sinais e sintomas observados na síndrome visual do computador

ASTENOPIA

É a sensação subjetiva de fadiga visual, tensão ou fraqueza ocular. “É importante confirmar se as crianças precisam de óculos ou aumentar o grau, pois a boa acuidade visual reduz o esforço ocular para ver. Mas não é a única causa de astenopia, que pode estar relacionada com a tensão na musculatura extraocular e da musculatura intraocular sob condições desfavoráveis de posição, tamanho de fonte, iluminação, contraste, brilho”, diz Alana.

CEFALEIA

Dores de cabeça que se manifestam em diferentes áreas anatômicas. “Dor periocular, em volta dos olhos, é sinal de esforço dos músculos oculares. Esse sobre-esforço pode ocasionar também a cefaleia frontal, na testa, acima dos olhos. É um indício de descompensação de desvios dos olhos, que se manifestam como estrabismos, nem sempre evidentes sem um exame específico chamado cover-test”, destaca a fisioterapeuta ocular. Essas são as cefaleias mais comuns, porém, as disfunções visuais podem geras impactos em cadeia e ir além da questão motora ocular. Quando estudamos as cefaleias, podemos fazer correlações com exames clínicos e perceber sobrecargas sensoriais em diferentes estruturas do sistema visual, além dos olhos. Como nas cefaleias temporais, occipitais e temporo-occipitais. Então, não menospreze dores de cabeça recorrentes!

VISÃO DESFOCADA

A oscilação de foco nítido acontece ao ler ou olhar um objeto próximo, ou ao alternar a visão longe/perto e perto/longe. “Esse mecanismo é chamado de acomodação e requer um sincronismo de controles neurais reflexos que envolvem a musculatura ocular intrínseca para ajustar a quantidade de contração ou relaxamento da lente do olho (o cristalino), e para ajustar a quantidade de luz fechando ou dilatando as pupilas, além da ação dos movimentos voluntários de convergência e divergência do olhar”, esclarece. Quando jogamos games e realizamos trabalhos no computador mantemos uma atenção focada e não percebemos o excesso de esforço concentrado para manter o foco perto e a convergência do olhar. As alterações de postura e posições viciosas de cabeça pioram o quadro, porque impactam nos núcleos sensório-motores que comandam essa circuitaria neural, lá no tronco encefálico (veja na figura, mais uma reflexão sobre “o que o olho tem a ver com o cérebro”).

OSCILAÇÃO DA VISÃO

A criança menor dificilmente vai relatar que sua visão oscila, talvez sequer perceba que está vendo esporadicamente embaçado. Contudo, além da acomodação, que pode inicialmente ter apenas um ajuste mais lento do foco causando um breve embaçamento, é comum na síndrome visual do computador a perda de fusão, com sintoma similar, que acontece quando os dois olhos já não conseguem trabalhar juntos como um time, em sincinesia e plena sincronia. Ou ainda, sente que enxerga melhor em determinada hora do dia, do que em outras. “Essas oscilações são um pedido de socorro alertando que algo não está legal, que o processamento visual está sobrecarregado e mais lento. Somente exames oftalmológicos pediátricos completos, ou com encaminhamento para a avaliação ortóptica, acabam revelando alterações funcionais”, recomenda Alana.

IRRITAÇÃO DOS OLHOS

A redução dos piscamentos, a luz azul emitida pelas telas e a tensão deixam os olhos irritados, vermelhos e levam as crianças a coçarem com frequência. Elas podem apresentar tanto olhos mais secos, como compensar com lacrimejamento excessivo. E ao franzirem as pálpebras estimulam uma secreção mais densa, diferente da lubrificação normal.

FOTOFOBIA

Aquela careta de repulsa e desconforto quando a claridade intensa incide sobre os olhos retrata bem a sensibilidade a luz, seja natural ou artificial. “Geralmente associada a patologias, na síndrome visual do computador pode estar relacionada à redução da função pupilar. Pode ser pela tensão da musculatura que contrai e dilata a pupila, como pela descompensação neurológica causada pela alteração postural. É um sistema, uma coisa está ligada a outra”, conclui a fisioterapeuta

18 dicas de ergonomia para evitar a síndrome visual do computador

O risco da síndrome visual do computador está principalmente relacionado ao tempo prolongado nas telinhas, sem intervalos. Deixar jogar uma vez ao dia, pode ser pior que jogar mais vezes, em intervalos de 20 a 40 minutos no máximo. 

Contudo, enquanto as aulas online são necessárias, apesar do mobiliário em casa geralmente não ser adequado aos estudos infantis, que tal algumas dicas para cuidar da ergonomia visual? Veja neste incrível check-list o que fazer. E se quiser ir além, indicamos este manual de Ergoftalmologia.  

checklist com 18 passos para saúde visual

Então, a criança pode e deve se levantar, se mexer bastante. Movimento é importante! Mas precisa aprender a se ajustar e reajustar. Quando pegamos elas no flagra se escorando na mesa dizemos “olha a postura”. Mas elas sabem o que isso quer dizer, que postura ideal seria essa? Ela tem que visualizar isso, ter o modelo.

A iluminação também é um aspecto delicado de mensurar. O ideal é buscar uma boa distribuição da luz, quando você percebe que os objetos ao redor, mais o ajuste de brilho da tela, têm aproximadamente brilho iguais. Não se iluda com a beleza da luz natural da janela, ela pode ser mais desfavorável que favorável. Na posição de estudo, teste fechar as cortinas e acender a luz, o que fica mais confortável?

Quanto a alternar a visão para longa distância eu combinei com a professora da minha filha para ela sugerir às crianças levantar, buscar água e olhar na janela. Depois contar algumas coisas que observaram acontecendo lá fora.

Converse com a escola sobre essas questões ergonômicas, encaminhe esta publicação e crie laços de apoio para ajudarmos as crianças, especialmente se elas já têm sintomas visuais – associados ou não à síndrome visual do computador.   

A negação: conhece alguém que se enquadra nesses exemplos?

Esses tempos ouvi uma criança dizer “meus amigos também ficam o dia todo jogando ou no computador”. Ela não queria aceitar que sua grave insuficiência de acomodação e a dificuldade de convergência, que lhe dificultavam ler, poderiam ter sido desencadeadas pelos prolongados tempos nas telinhas dos eletrônicos – a primeira hipótese pela anamnese.

Os pais também custam a entender. Muitas vezes acreditam que tudo se compensa com óculos ou lentes de contato. Mas a síndrome visual do computador desencadeia alterações neurológicas, não apenas ópticas.

Vamos além, a questão é que cada organismo é único e suporta o estresse de diferentes formas. Uma pessoa irá manifestar os sintomas antes, enquanto outras depois, ou até mesmo os sintomas sejam tão tênues e sequer avaliados.

A conta chega depois! Porque há uma relação sistêmica entre visão, aprendizagem e desenvolvimento motor. A criança pula de terapeuta em terapeuta, realiza exames neuropsicológicos exaustivos, e uma simples insuficiência de convergência ou um descompasso do sistema de movimentos oculares sacádicos – que nos permitem mover nossos olhos nos alvos de interesse e ler com desenvoltura – desestruturam todo o processo atencional, de memória e de aprendizagem.

Agir na ORIGEM do problema, não é o mesmo que agir no problema que é a ponta do iceberg. Compreende essa diferença?

Quase não se fala nisso dessa forma integrada, mas há centenas de estudos que convergem para essa análise. É preciso observar além da parte ocular da visão. 

Se observar bem, no conjunto da lista acima, não são queixas tão irrelevantes. Será que dá para dizer apenas “isso é que dá ficar o dia inteiro no computador, já disse para arranjar outra coisa para fazer”? Mudar hábitos é um processo e credito que precisamos acolher melhor vocês pais e vocês a seus filhos. Por isso, entre em contato se precisar!  

Una-se a nós, por um novo olhar sobre o desenvolvimento e a aprendizagem da criança.

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Categoriasaúde ocular e visão
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Sobre o Autor

Acredito que a informação transforma vidas, e assim nasceu este blog: um projeto pessoal, que tornou-me uma pesquisadora incansável sobre visão e aprendizagem. Hoje sou neurorreabilitadora visual e visuopostural. Tenho ambliopia e isto me motiva ainda mais! Estudando o universo da neurovisão, quero ajudar pais, terapeutas e professores com medidas importantes nos cuidados com a saúde ocular, o desenvolvimento visual e a baixa visão na infância. Saiba mais sobre a autora.